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Os bastidores de como a Jovem Pan tirou do ar Marco Antonio Villa, crítico de Bolsonaro

Spoiler: não foi o comentarista que pediu férias...

Principal emissora declaradamente de direita no Brasil, a rádio Jovem Pan tirou do ar o historiador e comentarista político Marco Antonio Villa. Em tese, o afastamento deverá durar um mês, mas esta previsão é incerta dada a tensão que marcou a decisão de cassar o microfone do comentarista do popular "Jornal da Manhã".

Villa tornou-se uma celebridade durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, batendo duro no PT na rádio e sendo festejado durante os grandes protestos de rua que aconteceram em 2015 e 2016. Agora, virou alvo de ira de um setor do bolsonarismo nas redes sociais e nos bastidores. Ele está longe do microfone da rádio desde a última sexta (24).

O BuzzFeed News apurou que Villa entrou em confronto com a direção da emissora paulistana por causa de críticas que tem feito recorrentemente ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), a seus filhos e ao entorno ligado ao escritor Olavo de Carvalho.

Recentemente, Villa estocou o presidente pelo que vê como hipocrisia no discurso da "nova política": "O presidente da República está há 30 anos como parlamentar: 2 na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro e 28 no Congresso Nacional. Três décadas! Gostou tanto da velha política que colocou os três filhos."

Ao abordar as dificuldades da relação do Planalto com o Congresso, o comentarista concluiu que o presidente "é despreparado para o exercício do cargo e não entende os embates típicos de uma democracia.”

Quando Olavo xingou o ex-comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, que sofre de uma doença degenerativa e anda em cadeira de rodas, Marco Antonio Villa chamou o guru da família Bolsonaro de "marginal da Virgínia" e de "canalha."

Agora, a retórica crítica causou-lhe problemas com o dono da rádio. Pelos termos de seu contrato, o historiador tem direito a 30 dias remunerados fora da programação, mas não foi ele que requereu estas férias.

Quando a direção da rádio requisitou que ele pedisse o afastamento remunerado por 30 dias, Villa recusou e disse que só sairia depois da emissora formalizar, ela própria, que ele estava sendo afastado.

Foi o que aconteceu: a direção da empresa enviou uma carta informando que ele estava saindo por 30 dias em virtude de uma alegada “readequação administrativa.”

O clima azedou a ponto de Villa lançar, durante as suas supostas férias, seu próprio canal no YouTube, que será atualizado... na hora de pico do Jornal da Manhã, da emissora.

Procurado pelo BuzzFeed News, ele não quis comentar os motivos do afastamento. Apenas defendeu o conteúdo de suas críticas ao presidente Bolsonaro e ao núcleo olavete.

"Meus comentários são baseados em fatos. Não estou construindo uma leitura ficcional da realidade. Não inventei nada. Faço hoje da mesma forma como escrevi, analisei e estudei o PT", disse Villa.

Ao saber do afastamento de Villa, Olavo de Carvalho celebrou.

Para mim, nem precisa explicar nada. https://t.co/VJarq46uxx

Fox News brasileira

Uma das emissoras mais tradicionais de São Paulo, a Jovem Pan deu uma forte guinada à direita em 2014, quando Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, assumiu o comando do negócio comprado por seu avô em 1944.

Há cinco anos, o ambiente político do Brasil fervia com a Lava Jato dando seus primeiros passos e Dilma vencendo, por pouco, uma reeleição contestada. A Jovem Pan se reposicionou ganhando relevância na onda do antipetismo, especialmente forte em São Paulo.

Integrando a primeira bancada do "Jornal da Manhã" junto com Rachel Sheherazade, Villa inflamava a audiência chamando o ex-presidente Lula de "chefe de quadrilha", antes mesmo de ele ser acusado formalmente de corrupção. O petista já foi condenado em dois processos por corrupção e cumpre pena em Curitiba.

Durante as manifestações de 2015, Villa foi o primeiro a atacar o Datafolha publicamente por discordar da medição do instituto sobre a quantidade de pessoas na Paulista. Até hoje eleitores mais à direita acusam o Datafolha de mentir.

A revista Piauí publicou reportagem, em julho de 2015, sobre como a Jovem Pan assumiu o protagonismo no jornalismo de viés conservador à exemplo do que ocorreu com a Fox News, nos Estados Unidos.

O diretor de jornalismo da Jovem Pan, Felipe Moura Brasil, foi procurado para comentar a decisão da rádio de afastar Villa, através de e-mail e WhatsApp durante toda a tarde desta terça (28). Ele não respondeu ao pedido de entrevista nem às perguntas enviadas pela reportagem.

UPDATE, QUARTA-FEIRA (29), 14H59: FELIPE MOURA BRASIL DIZ UMA COISA, VILLA DIZ OUTRA

No programa "Os Pingos nos Is" Desta terça, Felipe Moura Brasil insistiu na versão que Villa está de "férias".

“Blogueiros sujos publicaram na internet que o presidente Jair Bolsonaro mandou e a Jovem Pan demitiu o historiador Marco Antonio Villa. O grupo Jovem Pan informa, nesta terça-feira, 28 de maio de 2019, que são duas fake news. Villa, neste período que compreende semanas de maio e junho, está de férias. E Bolsonaro nunca pediu cabeça de qualquer profissional da empresa”, disse ele.

Menos de duas horas depois, Villa subiu um vídeo em seu canal de Youtube, rebatendo Moura Brasil.

“Queria deixar claro que de férias eu não estou”, afirmou, lendo o documento emitido pela emissora, citado pelo BuzzFeed: “Em face da necessidade de algumas readequações internas, vimos pela presente comunicar que por um período de 30 dias, a contar da presente, prescindiremos de vossos serviços”.

Aqui o vídeo de Villa:

Veja este vídeo no YouTube

youtube.com


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